"O que há em mim é sobretudo cansaço"

Que fazer num daqueles dias em que nada apetece fazer?

Estou cansada...apenas e só cansada. Nunca fui do género de pessoa de esperar acriticamente o futuro, muito menos de aceitar tudo como facto consumado e irrefutável, mas estou cansada. Cansada de viver? Talvez. Não me interpretem mal, os amigos que tenho são os melhores do mundo e não me faltam projectos para o futuro...há tanto que ainda quero realizar! E sei que sou capaz! Mas estou cansada; como nunca estive antes; talvez até desanimada. Não sei bem... são sentimentos confusos que conduzem a oscilações de humor que nem a TPM consegue explicar. Entre as amarras do passado que não nos deixam partir em pleno e as incertezas do futuro que não permitem descansar, fica o presente pleno de decepções.
Este é um daqueles dias em que a neura é mais forte que tudo e, se uma pessoa não escreve, explode. Será que a vida é um círculo e insiste em fazer-nos percorrê-lo vezes sem conta? Será que, independentemente das opções que fazemos, voltamos sempre ao ponto inicial? Aprende-se com os erros; contudo, quantas vezes é preciso repeti-lo até o encararmos como tal? Durante quanto tempo é preciso "pagar" pelo erro para (nos) permitir(mos) ser livres? Até onde permitimos que a acção dos outros determine a nossa vida? Cansaço de determinismos? Cansaço...

"O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço..."

Álvaro de Campos

bjinho*néme